Palavreando: conto A primeira vez nunca esquecemos

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A primeira vez nunca esquecemos

            Sempre acreditei que a primeira vez nunca esquecemos e por isso sempre tentei que elas fossem especiais. Ah, ainda lembro, como se fosse o hoje: o primeiro dia que matei aula.  Logo eu, a menina que sentava na primeira carteira da fileira e sempre tirava notas boas. Mas eu me deixei levar por aquela sensação de “quebrar regras”.

            A aula era de educação física. Você pode estar pensando: tantas aulas e a garota escolheu logo esta? Mas entendam duas coisas: uma, eu detesto atividade física e segundo, qualquer fuga era de me deixar tremendo. Deixei eu ser levada pela minha amiga até a lanchonete da escola e ficamos lá, sentadas em um canto, conversando.

            A escola era grande e tinha somente um monitor. A chance de sermos encontradas era bem baixa, ela disse. Minha amiga era a experiente e eu a boba medrosa que toda hora ficava olhando para ver se íamos ser pegas. Mas tudo bem, naquele dia tudo correu bem. Entretanto eu nunca mais matei aula. 
         
           A primeira vez que vamos a um show também me lembro. A sensação de poder fazer algo. A tão famosa maioridade. Não que eu tenha me encaixado. Nunca foi muito o meu tipo. Mas tinha algo de diferente em estar ali, em meio a tantas pessoas. As luzes... Foi diferente. Às vezes o diferente é bom. 

                Ah e a primeira vez que andei em uma montanha russa? Me senti tão detentora de coragem. Senti aquele frio na barriga, o medo de cair, mas foi divertido. A adrenalina na veia. Repetiria? Sem dúvidas! Um pouco de radicalidade faz bem, ué. 

            Lembro-me um pouco melhor ainda da primeira paixonite. E da primeira paixão. Porque tem diferença, certo? A minha primeira paixonite foi por um garoto da turma abaixo de mim. Mas ele era tão mais alto que eu, o que tornava tal fato irrelevante. Lembro de como tudo aconteceu. Estavamos passando pelo corredor, naquela agitação de fim de intervalo. Ele tropeçou em mim, não pediu desculpas e quando me virei me deparei com um par de olhos verdes lindos.

            Meu coração parou naquele momento. Senti algo diferente, uma pena que ele não. Foi-se embora. Porém eu não era mais a mesa. Aaah, os doces quatorze anos. Eu passei a observá-lo nos intervalos. Como ele era com os amigos, sozinho.

Eu não tinha um pingo de coragem de ficar no mesmo metro quadrado. Eu simplesmente passava mal. As borboletas em minha barriga pareciam não acabar nunca. As pernas bambeavam. Sei disso porque uns amigos tentaram nos aproximar. Lembro-me de escrever poemas. De ouvir This is me direto e nos imaginar. Um dia passou, tão rápido como veio. Mas nunca esqueci.

Tampouco esqueci da primeira declaração que recebi. Meu coração saltava em meu peito tão nervoso, mesmo eu sabendo de antemão o que aconteceria. Mas para certas coisas nunca estamos tão prontas. E ali, sentada no pátio da escola, eu senti um dos primeiros dramas de adolescência clichês. Amizade ou namoro? Eu não sabia.

E para ele eu gostaria de dizer, foi uma bagunça doida, aquele período, não é? Mas deu tudo certo e tomamos os caminhos que deveríamos tomar. Eu nunca fui de adiantar nada e acho que foi o melhor o fim que tomou.

A primeira paixão foi a pior de todas. E a melhor. A que um dia me fez ficar na bad e hoje me arranca umas boas risadas. E eu acho que a vida tem que ser assim mesmo. Devemos rir de tudo que aconteceu. É mais fácil do que guardar rancor. E eu guardei, sabe? Por um tempo.

E acho que até isso não esquecemos. A primeira vez que queremos tanto, mas dizemos não. Um não com uma dose de orgulho com amor próprio. Ora, quem gosta de ser trouxa?

Mas nunca esquecemos. O frio na barriga, a vontade louca de conversar, as disputas – aquela tática falível de mascarar -, de tudo. De quando corava quando ficava com vergonha. De quando mentiu. Nada, nada esquecemos. Mas aprendemos a lidar. Cada coisinha em nossa vida faz parte do crescimento, não é?

E crescer não dói? Sim! Dói e muito. Mas você verá, acredite, que sairá muito maior que tudo isso. Eu sempre tentei encarar minha vida como um roteiro de um livro ou algo assim. Tudo que me acontecia era intenso demais e eu gostava, até. Me fazia sentir viva.

Uma pena que quando a gente cresce perdemos um pouco do anseio de fazer tudo perfeito. Esquecemos daquela pessoa que fez de tudo para dar o seu primeiro beijo especial. E não deu certo. E você acaba aceitando um menos. Com uma pessoa menos.

E não, também sei que não vamos esquecer. Vamos tomando os rumos em nossa vida, cabe a nós descobrir o que fazer com cada uma dessas situações. Eu escolhi fazer delas pilares do meu fortalecimento. E você? O que escolheu?

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2 Comments

  1. "E crescer não dói? Sim! Dói e muito. Mas você verá, acredite, que sairá muito maior que tudo isso. Eu sempre tentei encarar minha vida como um roteiro de um livro ou algo assim. Tudo que me acontecia era intenso demais e eu gostava, até. Me fazia sentir viva."

    Me sinto assim até hoje. Amei! <3

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    1. Aaah Carol!!!

      Fico feliz que tenha gostado :) E temos que ser, né?

      Beijos!!

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